Esse poema já nasceu condenado, coitado!
Filho de mãe messalina e pai ignorado,
veio ao mundo imundo, impuro,
impregnado de culpa e pecado!
Trazia em si a fadiga
de um fardo humanamente profano.
Cheirava encrenca, balbúrdia,
vivia em meio à orgia
do submundo urbano.
Abusado, o poema cresceu,
adolescendo ainda mais leviano.
Disseminou verbetes impróprios,
andou por recantos inóspitos,
entregou-se ao apelo mundano.
Já adulto, adúltero,
desregrado, abusado, insano,
ao patíbulo foi condenado
morreu o poema, enforcado
por um algoz puritano.
Malu Sant’Anna