segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Andanças

Já andei por aí, em tantos cantos com seus ângulos, côncavos, retos e obtusos... por ruelas e avenidas; na rigidez do sol de verão, próximo ao paralelo 30 ou no gélido cair da geada impiedosa das madrugadas do inverno. Já subi ladeira e desci escada sem pisar nos degraus. Já dormi na relva, amanheci sombria e também já iluminei a vida de alguém, aos pés de uma lápide fria. Sufoquei o pranto, para não causar comoção indevida e gargalhei retumbante, sem pensar no eco da minha alegria implodindo os ouvidos alheios. Chorei e sorri sozinha, em par e até em bando... Tomei goles de euforia, até a embriaguez, amortecendo as dores da carne. Rompi milhares de horizontes, um mais intenso que o outro. Batizei um filho meu e alguns filhos de meus compadres e comadres. Bebi, fumei, larguei, fiquei. Vesti e desnudei. Saí, voltei.
Andei por caminhos transversos e por retas intermináveis. Reclinei o corpo nas curvas e senti um friozinho na barriga nas lombadas inesperadas.
Cansei muitas vezes e parei para descansar. Parei para olhar para o lado e, quando tentei olhar para trás, em um determinado trecho, perdi o equilíbrio, quase caindo. Mas jamais desisti de andar e, nas poucas vezes que reclamei dos pés inchados, da chuva e do frio cortantes; do sol e do calor escaldante, eu estava apenas pedindo colo, eu precisava de abrigo, um olhar mais ameno, um sorriso sereno, um ombro amigo...
Malu

Poeta

Com as palmas
das mãos suadas
de onde verte a alma
em versos
o poeta toca a alma alheia,
comunga e a liberta.
Malu Sant'Anna

Ah, Paixão!

FOTO CARLA SALGUEIRO
Abrasiva, incontida
força que me
tira o tino...

Ah, paixão!
Quantas vezes ainda
em ti eu alucino?

Malu Sant'Anna